Ou a escala de cada um
Para o ouvido de um pianista, o fundo é o pianíssimo silencioso, como o espaço é para o cego dos olhos. Ouvi, li superficialmente outro dia sobre a antimatéria necessária para a quebra da simetria, cuja descoberta rendeu o Prêmio Nobel àqueles físicos japoneses. A antimúsica seria, para mim, a exploração ao extremo da assimetria, nas buscas de simetrias, com o ouvido, tateante, que é o meu presente, e de cada um, neste ponto da nossa evolução. Pense-se em Sísifo, mas pense-se também em espiral, superação, raios de luz.
A verdade, por outro lado, é que a música ocidental é muito simétrica. Doze, oito, quatro, três, dois, maior, menor, justo, diminuto, aumentado, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sétima, oitava, nona, décima, décima-primeira, décima-terceira, só doze intervalos possíveis no piano.
O que faço na improvisação: aproveitando que na assimetria está a simetria negativa, o avesso não obstante musical, é com ela que eu jogo lógico, brinco, especulo, espelho, me reflito e me comunico. O natural, real e físico nela é a acústica.
Bach dizia que qualquer pessoa poderia criar e tocar tudo o que ele fez, se se dedicasse como ele se dedicava à arte de tocar, compor e improvisar. Eu não dei para isso. Estou consciente de que as diferentes capacidades musicais entre os músicos formam um conjunto de interstícios e planos que são os estados da arte de cada um, infinitamente plural e gasoso como o ar da manhã de sol que a chuva acabou de limpar, com gotas de água brilhando nas folhagens. Estou aí, suspenso nesse meio. Nisso sou apenas um buscador, somos apenas buscadores, como qualquer uma, e cada um, com a sua dança, o seu movimento real.
Comecemos pela dinânima, do fundo, piano, pianíssimo.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
O que é tocar bem
Labels:
dinâmica,
harmonia,
improvisação,
intervalos,
música ocidental,
ouvido,
pianíssimo,
piano,
simetria
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário