sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Da influência da improvisação na vida musical do século 19

“Töpken, um amigo da juventude de Schumann, confirma a qualidade artística dos improvisos dele. Ao falar das horas que passavam juntos, no tempo de estudantes em Heidelberg, Töpken relata: '... Às conversas com os colegas seguiam-se, de costume, os improvisos dele ao piano, onde soltava tudo quanto é espírito. Tenho que admitir que os repentes musicais de Schumann me davam um prazer que nunca mais voltei a sentir, nem mesmo ao ouvir outros grandes artistas. Vinha como que numa chuva de idéias de uma fonte inesgotável. Pegava uma idéia e a desdobrava em todas as suas formas, e tudo mais ia brotando como que por conta própria, o tempo todo com um espírito peculiar, profundidade e toda a magia da poesia. Já tinha os traços claramente identificáveis da essência musical dele, tanto pelas idéias cheias de energia criativa, como pelas reflexões de devaneio e ternura.’" "O prazer incontido de improvisar não diminuiu nem quando Schumann contraíu a doença na mão, como mostra a carta da juventude datada de 19/3/1834: ‘Não me incomoda no improviso. Até deu aquela velha coragem de improvisar para as pessoas’. Muito antes de começar a tomar aulas de teoria, o jovem Schumann tentava conquistar o reino das notas improvisando, entre outras coisas. Ao mesmo tempo em que, inicialmente, sentia a falta de conhecimentos teóricos, que logo trataria de suprir, exaltava o estado de felicidade que sentia nas fantasias diárias no instrumento, o que se reflete nas anotações nos diários e nas cartas.” "O temor de perder idéias valiosas que poderiam integrar a forma definitiva de uma composição, diante do predomínio da improvisação, foi o motivo pelo qual Schumann aconselhou Clara, numa carta escrita em Viena em 3/12/1838, a não fantasiar muito, para não desperdiçar muita coisa digna de ser aproveitada. Queria que ela se propusesse a pôr tudo imediatamente no papel. Mas Clara Schumann parece não ter acatado completamente o conselho, pois já era outubro de 1895 quando escreveu no seu diário: “Bem que um dia eu gostaria de escrever os meus prelúdios, que sempre toco antes das escalas, mas é muito difícil, porque vivo a modificá-los, ao sabor do que vai saindo no momento em que estou tocando.” Mas, a pedido dos filhos, naquele tempo acabou escrevendo uma série de prelúdios. [Traduzido de um texto de Wolfgang Rüdiger, professor da Robert-Schumann-Hochschule, em Düsseldorf, entitulado "Vom Einfluss der Improvisation auf das Musikleben des 19. Jahrhunderts", ou "Da influência da improvisação na vida musical do século 19", que está na internet.

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